Citogenética lança luz na compreensão das neoplasias hematológicas
Com técnicas clássicas e moleculares, esse ramo da genética revoluciona a Onco-Hematologia.

Apenas meio século atrás, diante de uma suspeita de neoplasia hematológica, os especialistas contavam apenas com a citomorfologia e com a avaliação quantitativa dos elementos figurados do sangue periférico e das células precursoras da medula óssea para chegar a uma conclusão diagnóstica, o que, consequentemente, limitava a chance de os tratamentos serem bem-sucedidos.

Foi só em 1960 que se fez a primeira descrição de uma alteração cromossômica relacionada a uma doença neoplásica maligna: o cromossomo Philadelphia (Ph), observado em pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) e, mais tarde, em 1973, reconhecido como uma translocação, entre os cromossomos 9 e 22.

A partir daí, milhares de alterações cromossômicas nos diversos cânceres hematológicos foram descritas.



LMC: cariótipo mostra translocação recíproca envolvendo os cromossomos 9 e 22 (setas) = cromossomo Philadelphia.
LMC: cariótipo mostra translocação recíproca envolvendo os cromossomos 9 e 22 (setas) = cromossomo Philadelphia.
Graças a essa descoberta, que deu início a uma verdadeira revolução, identificou-se que o proto-oncogene c-ABL estava translocado do cromossomo 9 para o 22, na região breakpoint cluster region (BCR), dando origem ao gene quimérico BCR-ABL1, o qual aumenta a atividade da tirosinoquinase. Com isso, o alvo terapêutico estava demonstrado.

Faltava desenvolver um inibidor, o que ocorreu em 2001 com o mesilato de imatinibe, inaugurando a era da terapia molecular alvo-específica. Hoje, milhares de portadores de LMC estão em remissão molecular por conta desse tratamento específico para a doença, que, antes, levava a óbito em quatro anos.


Contribuição inestimável
O exemplo da LMC ilustra a contribuição inestimável da Citogenética na abordagem das neoplasias hematológicas. Os avanços ocorridos nas últimas décadas tornaram possível a identificação individual de cada cromossomo, além da detecção de deleções, inversões, inserções, translocações, sítios frágeis e outros rearranjos mais complexos.

Na Citogenética Molecular, por sua vez, a hibridação in situ por fluorescência (FISH), em particular, possibilita o encontro de translocações mesmo em células que não estão em divisão. Por ser específica e rápida, a técnica ainda agiliza a definição do diagnóstico e da modalidade terapêutica, servindo tambem para monitorar o paciente durante o curso da doença.

Ao lado dessa evolução, a Biologia Molecular teve um salto espetacular com a introdução de novos métodos, como a PCR qualitativa e quantitativa. Nesse cenário, a combinação de mutações detectadas por diferentes testes ganha espaço e pormenoriza detalhes com significado clínico.

Mas o longo caminho percorrido pela Hematologia e pela Citogenética ainda está distante do fim. É na reflexão histórica e no aprofundamento do saber científico que se encontram as bases para o futuro, com a perspectiva de novos benefícios aos pacientes acometidos por hemopatias malignas.

Confira, nas páginas seguintes, as principais descobertas que modificaram o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento do câncer hematológico.

01 de setembro de 2012