Tida como condição rara até alguns atrás e restrita ao intestino delgado, a doença celíaca (DC) é considerada atualmente uma afecção comum, com prevalência de 1-2% na população geral, que afeta vários órgãos. Sua fisiopatologia envolve uma complexa interação entre o glúten, a suscetibilidade genética do indivíduo e seu sistema imunológico. Pode aparecer durante a infância ou na vida adulta, quando uma intolerância permanente ao glúten se desenvolve e dá origem a diversas manifestações clínicas, incluindo dor abdominal, perda de peso, diarreia, irritabilidade e complicações que surgem em longo prazo, como osteoporose, infertilidade e malignidade – esta última associada às taxas de mortalidade da doença. Os diferentes sintomas e resultados nos testes usados para seu diagnóstico determinam a classificação da afecção em clássica, atípica, silenciosa e latente (fio para quadro).
A confirmação diagnóstica da DC baseia-se em testes sorológicos para a investigação dos biomarcadores antiendomísio, antigliadina deaminada e antitransglutaminase, na genotipagem do HLA para a pesquisa dos heterodímeros DQ2 e DQ8 e em mudanças nas características histopatológicas do duodeno, tais como atrofia das vilosidades, hiperplasia das criptas e infiltrado inflamatório, vistas ao estudo histopatológico de fragmentos extraídos da região por biópsia endoscópica. Nas páginas que se seguem, você confere como e quando usar essas ferramentas de investigação.
Autoimunidade a galope
A coexistência da DC com outras doenças autoimunes, como o diabetes mellitus tipo 1, doença de Addison, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, síndrome de Sjögren, hepatite autoimune, cirrose biliar primária e estomatite de repetição, tem sido relatada com frequência, sugerindo anormalidade intrínseca na regulação do sistema imune. A frequência da afecção nos pacientes com doenças autoimunes da tiroide mostra-se de quatro a oito vezes maior do que na população geral ou em doadores de sangue.