Responda rápido: você frequentemente pula da cama com uma sensação de angústia, achando que não dará conta de todos os compromissos agendados no dia? Fica com as mãos suadas e o coração disparado sempre que enfrenta um congestionamento porque tem medo de levar uma bronca pelo atraso? Não consegue relaxar nem nos finais de semana, cobrando de si mesmo uma solução mais eficiente para determinado problema do trabalho?
Se as situações descritas acima fazem parte de sua rotina, você provavelmente é uma pessoa ansiosa. No entanto, é bom deixar claro que esse sentimento é um estado emocional comum no dia a dia de qualquer ser humano, assim como a felicidade e a raiva. A ansiedade geralmente se manifesta quando temos que encarar algo que nos provoca medo, expectativa ou dúvida. Mais um exemplo? Antes de começar a ler este texto você, que eventualmente pode estar em uma sala da a+ esperando sua vez de realizar exames, sentiu-se um pouco apreensivo ao imaginar se vai dar tudo certo, o que acontecerá caso surja um resultado inesperado... Embora possa soar estranho, esse tipo de ansiedade é normal, pois preocupar-se com a saúde é um comportamento esperado. A cena muda de figura quando ela se transforma num turbilhão que leva nossa paz embora.
Razões do desassossego // Enquanto nossos antepassados se preocupavam apenas em sobreviver a catástrofes naturais ou a resolver suas necessidades diárias de alimentação, por exemplo, no mundo atual as ameaças são várias – e, na maioria das vezes, pouco tangíveis. Em outras palavras, são impostas pelo nosso imaginário a partir de demandas sociais. “É a ansiedade de conquistar um relacionamento perfeito, uma carreira de sucesso, ser uma mãe impecável”, destaca a psicoterapeuta holística Myriam Durante, de São Paulo, autora do livro Ansiedade – Aprenda a Controlar Sua Ansiedade e Viva Melhor (ed. DVS). “Como se não bastasse ter que lidar com a pressão interna, crescemos em uma sociedade que valoriza a competição, o que nos torna ainda mais ansiosos”, diz. Ou seja, muita gente fica constantemente sob a mira da inquietação. Resultado? O corpo e a mente vivem alterados, o que não é nada saudável.
Limite frágil // “O problema é quando a ansiedade aparece de maneira muito exagerada, com frequência e intensidade que nos perturbam além da conta”, explica a psicanalista e escritora Sylvia Loeb, de São Paulo. É aí que surgem os sintomas físicos (taquicardia, boca seca, falta de ar, sudorese, tontura, aperto no peito...) e os psicológicos, como insônia, falta de concentração, irritabilidade, medo exacerbado, compulsão, baixa autoestima. “Essas crises frequentes podem levar ao surgimento de doenças graves, como estresse, síndrome do pânico, depressão ou fobias variadas, entre outras, comprometendo a vida social, familiar e profissional”, conclui.
No entanto, nem sempre é fácil perceber que o estado de preocupação atingiu níveis extremos. De acordo com a psicóloga Daniela Petry, fundadora do Grupo Terapêutico Lidando com a Ansiedade, em Canoas (RS), isso ocorre porque a linha que separa a ansiedade normal da patológica é tênue. “O que determina o grau de aflição de cada pessoa é a personalidade dela e o modo como lida com os acontecimentos”, garante. Se a cabeça vive tomada por pensamentos catastróficos, as chances de viver intranquilo e inquieto aumentam. “Quem ouve uma janela batendo e é tranquilo coloca a culpa no vento. O ansioso acha que o ladrão levou tudo o que havia no cômodo”, completa a psicoterapeuta Myriam Durante. Lógico que, se a pessoa já passou por uma experiência traumática, tende a ser mais ansiosa porque acredita que aquilo vai acontecer outra vez, mesmo que não existam evidências nesse sentido.
Autoconhecimento é tudo // Até pouco tempo atrás acreditava-se que as mulheres sofriam mais de ansiedade – as mudanças hormonais e o acúmulo de funções seriam algumas causas. No entanto, hoje a inquietação não escolhe sexo, idade ou classe social. E, de acordo com as especialistas, as pessoas infelizmente só buscam ajuda – em grupos de apoio ou em terapia individual – quando já estão doentes. A boa notícia é que os males ligados à ansiedade podem ser resolvidos. E como manter a ansiedade sob controle antes que ela vire uma patologia? O primeiro passo é investir no autoconhecimento – ao criar intimidade consigo mesmo, você identifica os motivos da sua inquietação e busca soluções para se livrar deles. Também é importante descobrir quais atividades adicionam tranquilidade e bem-estar à sua vida. “Técnicas de meditação e de respiração e exercícios físicos que trabalham corpo e mente, como a dança, costumam trazer benefícios”, diz Sylvia Loeb. Dormir bem, ter mais contato com a natureza, cultivar a espiritualidade e, sobretudo, afastar os pensamentos negativos são outras atitudes que colaboram para um dia a dia mais calmo, assim como enxergar os outros (e a si mesmo) com otimismo e compaixão.
264 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade no planeta. No Brasil, 9,3% da população relata algum tipo de aflição.
Fonte: Organização Mundial da Saúde
Filho de peixe...
De acordo com a Sociedade Americana de Ansiedade e Depressão, uma em cada oito crianças é ansiosa. Agenda cheia, competição entre os colegas, exposição excessiva à tecnologia... Esses são alguns motivos que causam inquietação nos pequenos. No entanto, segundo a psicóloga e pedagoga Maria Drummond Gruppi, do Centro de Cuidados Infantis Ponto Ômega, em São Paulo, os pais podem ser os principais responsáveis pela ansiedade da criança. “Se eles são muito preocupados, acabam transferindo esse sentimento para o filho”, garante. Alguns sintomas de que algo está errado são mal-estar gástrico, medo de ficar sozinho e choro frequente. Para a especialista, é preciso buscar ajuda profissional quando a ansiedade prejudica o desenvolvimento e altera o dia a dia da criança – por exemplo, quando ela não quer ir à escola ou tem problemas de convivência. “Nesse caso, a terapia é a melhor solução. E os pais precisam participar do tratamento também.