Diante de linfadenopatias agudas febris em adolescentes, pense em mononucleose infecciosa
O hemograma já levanta a hipótese, mas a confirmação depende do achado de anticorpos contra antígenos do capsídeo viral

Embora não haja um comportamento claramente sazonal da infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV), existe uma tendência ao aumento do número de casos no período que se segue às férias escolares e ao carnaval, em virtude do tipo de transmissão da doença. O agente etiológico é transmitido sobretudo pela saliva, quase sempre por contato íntimo e raramente por fômites compartilhados, o que confere à doença a alcunha de “doença do beijo”. Desse modo, deve-se sempre cogitar essa possibilidade – e a de seus diagnósticos diferenciais (veja pág. 2) – em pacientes com linfadenopatias agudas febris no fim da infância e na adolescência.

Do ponto de vista diagnóstico, o hemograma com linfocitose relativa – usualmente superior a 50% dos leucócitos – configura um importante marcador da mononucleose infecciosa. Com frequência, há linfócitos atípicos, em proporção maior que 10% dos totais, os quais correspondem a células T CD8 citotóxicas ativadas. Podem ainda ocorrer neutropenia e plaquetopenia. Essas características, contudo, não são exclusivas da doença pelo EBV, cuja confirmação requer o uso de métodos sorológicos.

Atualmente, utiliza-se a pesquisa de anticorpos IgG e IgM contra os antígenos do capsídeo viral (anti-VCA), que precisa estar positiva para ambas as classes para fechar o diagnóstico. Os títulos da IgM positivam-se por volta de sete a dez dias após o início dos sintomas, quase simultaneamente aos da IgG. Desse modo, se ocorrer positividade isolada da IgM, recomenda-se repetir a sorologia após cerca de uma semana, no máximo, quando se espera que já tenha ocorrido a soroconversão da IgG. Contudo, a persistência somente da IgM pode significar uma falsa positividade, incluindo reações cruzadas com outras infecções, como as causadas por citomegalovírus ou toxoplasma. Por outro lado, em casos confirmados, é possível que os títulos de IgM mostrem-se positivos por até quatro meses.

Que fim levou...
... a pesquisa de anticorpos heterófilos?
Embora tenha sido clássico para o diagnóstico da mononucleose, esse teste entrou em desuso desde o surgimento de técnicas mais sensíveis e menos trabalhosas – caso do anti-VCA –, que detectam anticorpos específicos contra o EBV. De qualquer maneira, sua utilidade diagnóstica sempre foi reduzida nos locais onde a doença incide mais precocemente, uma vez que, quanto menor a idade do paciente, menor é a positividade da pesquisa.

Como age o EBV
Integrante da família Herpesviridae, o EBV inicia seu ciclo replicativo em células epiteliais da orofaringe logo após a invasão, o que explica a faringite exsudativa comum na doença. A seguir, infecta suas células-alvo, os linfócitos B, que, em seus processos migratórios para o sistema fagocítico-mononuclear, desencadeiam linfadenomegalia generalizada e, em cerca de 25-50% dos casos, esplenomegalia. À resposta imunológica sistêmica, atribuem-se a febre, o mal-estar, a mialgia, a fadiga e outros sintomas que começam desde a fase prodrômica e chegam a perdurar por duas semanas ou mais.

01 de março de 2013